quinta-feira, agosto 23, 2007

SOCIEDADE DA SOLIDÃO (2)


Hoje, na Sábado, ficamos a saber que o Second Life está a ficar deserto. Os lamentos vêm da empresa produtora do jogo, a Linden Lab. Dos 8 milhões de avatares apenas 1 milhão visitou o mundo virtual no último mês. Terão perdido clientela? Não sei. Talvez os criadores destes avatares tenham ido de férias. Mas isso não me parece relevante. Agora, o que já me desperta a atenção é o seguinte: «As sedes da Sony e Reebok estão sempre vazias e as empresas já pensam em fechar as portas. Só o sexo parece restar entre as grandes atracções: Sexy Beach, lugar de fantasias sexuais, é o local mais visitado». Ora, isto quer dizer alguma coisa. Não me parece que o pessoal esteja tão interessado em levar uma segunda vida no mundo virtual nos mesmos moldes que leva no mundo real, cheia de rodriguinhos, tributável, constitucional. Aliás, seria uma autêntica chatice. O que o pessoal quer é pisar o risco, ultrapassar os limites dos possíveis, explodir em agressividade e pôr em prática as suas fantasias sexuais, senão as duas coisas ao mesmo tempo, precisamente aquela agressividade e aquelas fantasias sexuais que tem de conter na sua vidinha quotidiana. É claro que as pessoas negam veemente estas intenções moral e socialmente condenáveis e até aparecem com aquela belíssima etiqueta "just looking for friends". Por isso, parece-me natural que o sexo esteja entre as grandes atracções do Second Life. E talvez se reduza a isso mesmo. Sexo de pôr os cabelos em pé ao clássico missionário. Sexo e agressividade. Cada um procura-se onde acha que se perdeu. Na verdade, este é mais um sinal de desumanização desta nossa sociedade. Para o melhor e para o pior, sobretudo para o pior, cada vez mais uma sociedade da solidão por definição.

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