quarta-feira, agosto 29, 2007

PELOS VISTOS, OS ESTÚPIDOS SOMOS NÓS (1)


OK, tudo bem. Todos os anos há centenas de mortos nas estradas portuguesas e uns tantos milhares de feridos. Mas oiçam lá, pela forma como os portugueses conduzem, os números até são muito baixos. Aliás, convém dizer que, segundo o relatório sobre sinistralidade rodoviária de 2006 do Observatório de Segurança Rodoviária (disponível aqui), o número de acidentes com vítimas tem vindo a decair desde 1998. Contudo, os cenários repetem-se todos os anos. Nos meses de Verão (Julho e Agosto) o número de acidentes e vítimas dispara mas é nos meses de Novembro e Dezembro que a gravidade é maior. Grande parte ocorre dentro das localidades mas a maior percentagem de mortos ocorre fora das localidades. Os IP/IC têm maior índice de gravidade (5,8), seguem-se as estradas regionais, florestais, pontes e restantes vias (4,0), depois estradas nacionais (3,8), estradas municipais (3,8), auto-estradas (3,2) e, finalmente, arruamentos (1,0). Em todos os casos é fora das localidades que o índice de gravidade é maior. O excesso de velocidade para as condições existentes é uma das causas de peso na sinistralidade.

Ok, é legítimo que as autoridades tenham por objectivo "acidentes zero/vítimas zero" e que usem de todos os meios para o conseguir. Agora, têm é de ser honestos. É que eu não consigo ver esta política de radares em Lisboa de outro modo a não ser como autênticas slot machines para a autarquia sob o pretexto de uma causa nobre que é a poupança de vidas. Eles parecem que estão preocupados com as nossas vidas mas, na verdade, eles estão é entusiasmados com as receitas que daí vão obter (nunca mais me vou esquecer do que disse o ex-director geral dos impostos, Paulo Macedo, quando resumiu toda a política deste governo numa frase de Bejamim Franklin: «Só há duas coisas certas na vida: morrer e pagar impostos»). E não consigo ver de outro modo a não ser este sobretudo porque não vejo um igual empenhamento numa política de prevenção, nomeadamente nas escolas de condução onde, a troco de uma boa quantia, qualquer um obtém licença de condução. Como também não vejo igual empenhamento na implementação de um sistema proactivo de formação contínua do condutor. Mas, pior do que tudo isto, não noto um incómodo sequer em relação à publicidade extremamente agressiva por parte das marcas de automóveis de apelo à velocidade e à compra de veículos que andam cada vez mais para depois disfarçarem com os novíssimos sistemas de segurança e retenção. Vejam a publicidade ao novo Audi A5 que nos mostra como este carro anda tão depressa como um jacto. Ou ainda a publicidade ao novo Renault Clio que é tão veloz como uma bala. Mas alguém me explica porque permite esta gente a venda de carros que atingem, uns segura outros inseguramente, os 200 km/h sendo a velocidade máxima permitida por lei de 120 km/h? Será por causa do imposto automóvel e do IVA? É que dar com uma mão e tirar com a outra é muito pouco honesto. É por isso que eu acho que a colocação de radares na cidade é uma imbecilidade. Senão vejamos. A 2.ª circular tem dois radares na extensão que vai do final da IC19 até ao aeroporto. O alcance do radar é de uns 50 metros. Isto significa que esta gente fica satisfeita com o cumprimento dos limites de velocidade por parte dos condutores durante... 100 metros! Ui que agora é que os acidentes vão ao zero. Ui que agora é que os condutores vão ter tanto medo que não se vão atrever a deslocar o ponteiro um 1 km sequer além do permitido. Tudo isto a bem da nação. E os estúpidos, esses, pelos vistos continuamos a ser nós. E ainda por cima pagamos.

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