sábado, agosto 18, 2007

LENDO Y, A DESCENDÊNCIA DO HOMEM

Já há algum tempo que andava para ler este livro de Steve Jones. A oportunidade estava estritamente dependente do número de ordem. E assim foi. Depois de muito tempo prensado por uma pilha de livros por ler, chegou a sua vez de ser livro, isto é, de ser lido.

Foi apenas necessária a leitura das primeiras 28 páginas para me apetecer dizer alguma coisa. E se na leitura de um livro nos apetece espontaneamente dizer alguma coisa, então o melhor é dizer mesmo, sob pena de chegarmos ao fim a saber menos daquilo que sabíamos no princípio. Leitura que não seja crítica é uma absoluta perda de tempo. O interessante é conversar com o livro. Posto isto, aqui vamos nós.

Comecemos com as impressões. Antes de mais, promete ser um livro desolador para os homens. Eu diria mais, um livro pessimista no sentido de insinuar que os homens estão a meio caminho de se tornarem dispensáveis neste admirável mundo novo. E depois lá vêm as comparações com aqueles animais que não precisam de machos para se reproduzirem. Esse tipo de comparações, usadas exclusivamente com fins sociais perniciosos, irrita-me solenemente. Ora, nós somos Homo sapiens. Porque haveríamos nós de ser como um animal minúsculo que habita os confins do mundo possível? Por outro lado, há algo que me agradou imenso. A páginas tantas, escreve o seguinte: «O Y traz consigo as marcas de um passado complexo e inesperado. O DNA sugere que terá sido em tempos semelhante ao seu sócio maior, X, que actualmente contém muito mais genes». Ora aqui está algo que corrobora a minha “desprezível” teoria de que no princípio dos princípios éramos todos mulheres. À falta de melhor argumentação, usei sempre como facto insinuante o desenvolvimento embrionário. Seria alguém capaz de me explicar porque carga de água é que todo o embrião começa por se desenvolver segundo um arquétipo feminino? Não, não seria. E por isso é que eu rematava, bem ao jeito de Haeckel e da sua lei da recapitulação, vejam lá que o desenvolvimento embrionário recapitula exactamente a história da mulher que, mais tarde, por um desafio qualquer dos vícios da diversidade, deu origem ao homem, isto é, ao cromossoma Y, precisamente aquele cromossoma cuja função é o de masculinizar e de, vejam bem a gravidade da redundância, fazer crescer pêlos nas orelhas de quem os tem. E sim, começa a ser por demais evidente que vivemos num tempo em que o homem tem de lutar para ser homem. Desconfio que isto não vai ser muito bom, nem para as mulheres nem para os homens.

(continua)

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