quinta-feira, agosto 23, 2007

CUIDADO, MUITO CUIDADO (1)

Na altura em que se inventaram os testes de inteligência, houve logo quem se apressasse a usá-los com fins sociais perniciosos. Surgiram de imediato propostas de recompensa monetária àqueles que tinham um quociente de inteligência baixo e se submetiam voluntariamente à castração por forma a não propagar a sua burrice. Esta semana foi publicado um artigo científico na PLOS ONE sob o título “Homosexual Women Have Less Grey Matter in Perirhinal Cortex than Heterosexual Women” da autoria de Jorge Ponseti e seus colaboradores. O que este artigo nos diz é que as mulheres homossexuais têm menos massa cinzenta numa zona específica do cérebro do que as mulheres heterossexuais. Um jornalista mal intencionado anunciaria logo a descoberta da diferença biológica entre as lésbicas e as mulheres (esta é a forma caseira como se estabelece a diferença) do tipo: vejam só que, afinal, as lésbicas, coitadinhas, são mesmo deficientes. E isto pode ir mais longe, precisamente até à esperança de, um dia, descobrirem a cura ou, então, um comprimido qualquer que trate esta deficienciazinha. Ora, isto, do ponto de vista científico, é totalmente inadmissível e absolutamente desonesto. O uso da ciência, aliás, a subversão da informação científica por forma a ser usada com fins sociais perniciosos deve ser imediatamente denunciada. OK, tudo bem. Ainda ninguém usou esta informação nesse sentido. De qualquer forma, tenham cuidado, muito cuidado e não acreditem em tudo aquilo que vos dizem.

(Para terem uma ideia de como as coisa podem mesmo descambar, leiam, por favor, A Falsa Medida do Homem de Stephen Jay Gould, publicado em 2004 pela Quasi Edições)

Foto, daqui.

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