A PROPÓSITO DO CASO ESMERALDA
Quando me perguntaram se eu queria assinar um papel para libertar um sargento que tinha sido preso injustamente por amor à filha, eu disse que não. E apresentei as minhas razões: primeiro, não acredito em tudo o que me dizem; segundo, não conheço o sargento de lado algum. Concordo em absoluto com o texto de José Pacheco Pereira intitulado «Perigos absolutos da demagogia» publicado na revista Sábado da semana passada. Porque o perigo é mesmo absoluto e é mesmo da demagogia. O tratamento jornalístico dado a este tema tem sido genericamente um nojo. O processo em si já está cheio de trapalhadas e com as trapalhadas jornalísticas então tudo ficou um caos. Mas os "jornalistas" sabem ao que andam. Mais do que informar eles querem é criar sensação e trazer do estado latente esse epifenómeno que é a justiça popular. Como sempre, discute-se o que não interessa discutir. O programa «Prós e Contras», também da semana passada, mostrou isso mesmo, caminhando do princípio ao fim sobre o fio da navalha com alguns escorregões pelo meio (os únicos momentos de interesse). E o que interessa discutir é precisamente o tipo de protecção que o Estado confere (ou deveria conferir) aos jovens e crianças. Não acho que este caso seja simbólico sobretudo porque nas entrelinhas ele mostra-nos o que muitos outros nos mostram, isto é, a falsidade do argumento «superior interesse da criança». É que no superior interesse da criança, estariam mais crianças em contexto familiar e não institucional (os processos de adopção demoram demasiado tempo); no superior interesse da criança, muitas crianças de pais biológicos irresponsáveis, inconsequentes, negligentes, não teriam de perecer para provar que algo estava mal; no superior interesse da criança, a justiça não pode ser cega nem indiferente ao tempo; no superior interesse da criança, um juiz não arranca uma criança da sua família para a dar a um desconhecido; no superior interesse da criança, nós não desviaríamos os olhos fingindo que nada se passa na casa ao lado. O resto não interessa. O resto faz-me lembrar as carpideiras dos velhos tempos. As dos novos tempos são assim: hoje um escândalo Nacional, amanhã o episódio em que Frederico pede finalmente Floribela em casamento.
***
Sobre o caso Esmeralda, o SOL de 27-01-2007 abre o destaque com a seguinte frase: «Uma sucessão de intervenções técnicas erradas, que não cuidaram do interesse da criança. É assim que os especialistas olham agora para o caso Esmeralda.» Finalmente a discussão começa a centrar-se naquilo que é realmente importante discutir.
***
O psiquiatra Daniel Sampaio, na revista XIS de 27-01-2007, põe o dedo na ferida quando diz: «Em muitos locais, aparece a expressão "os superiores interessas da criança", mas quem cuida ou se preocupa verdadeiramente com os interesses da Esmeralda?» Mais à frente diz: «A verdade é que os nossos tribunais não têm qualquer competência para avaliar os "superiores interesses da criança", que tanto gostam de apregoar. Aos juizes e magistrados falta quase sempre formação e supervisão para decidir. Não existem acessorias credíveis nos tribunais, que decidem ou sem parecer técnico, ou com relatórios de psicólogos e assistentes sociais que não estão treinados em metodologia sistémica, isto é, não sabem (ou não podem) avaliar a situação em todas as suas vertentes.» Et voilá. Eis o momento oportuno para os senhores jornalistas irem ter com o senhor Ministro da Justiça, com o senhor Ministro da Solidariedade Social, com o senhor Primeiro-Ministro e com os senhores deputados, todos eles com «rabos de palha» nesta matéria.
Quando me perguntaram se eu queria assinar um papel para libertar um sargento que tinha sido preso injustamente por amor à filha, eu disse que não. E apresentei as minhas razões: primeiro, não acredito em tudo o que me dizem; segundo, não conheço o sargento de lado algum. Concordo em absoluto com o texto de José Pacheco Pereira intitulado «Perigos absolutos da demagogia» publicado na revista Sábado da semana passada. Porque o perigo é mesmo absoluto e é mesmo da demagogia. O tratamento jornalístico dado a este tema tem sido genericamente um nojo. O processo em si já está cheio de trapalhadas e com as trapalhadas jornalísticas então tudo ficou um caos. Mas os "jornalistas" sabem ao que andam. Mais do que informar eles querem é criar sensação e trazer do estado latente esse epifenómeno que é a justiça popular. Como sempre, discute-se o que não interessa discutir. O programa «Prós e Contras», também da semana passada, mostrou isso mesmo, caminhando do princípio ao fim sobre o fio da navalha com alguns escorregões pelo meio (os únicos momentos de interesse). E o que interessa discutir é precisamente o tipo de protecção que o Estado confere (ou deveria conferir) aos jovens e crianças. Não acho que este caso seja simbólico sobretudo porque nas entrelinhas ele mostra-nos o que muitos outros nos mostram, isto é, a falsidade do argumento «superior interesse da criança». É que no superior interesse da criança, estariam mais crianças em contexto familiar e não institucional (os processos de adopção demoram demasiado tempo); no superior interesse da criança, muitas crianças de pais biológicos irresponsáveis, inconsequentes, negligentes, não teriam de perecer para provar que algo estava mal; no superior interesse da criança, a justiça não pode ser cega nem indiferente ao tempo; no superior interesse da criança, um juiz não arranca uma criança da sua família para a dar a um desconhecido; no superior interesse da criança, nós não desviaríamos os olhos fingindo que nada se passa na casa ao lado. O resto não interessa. O resto faz-me lembrar as carpideiras dos velhos tempos. As dos novos tempos são assim: hoje um escândalo Nacional, amanhã o episódio em que Frederico pede finalmente Floribela em casamento.
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Sobre o caso Esmeralda, o SOL de 27-01-2007 abre o destaque com a seguinte frase: «Uma sucessão de intervenções técnicas erradas, que não cuidaram do interesse da criança. É assim que os especialistas olham agora para o caso Esmeralda.» Finalmente a discussão começa a centrar-se naquilo que é realmente importante discutir.
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O psiquiatra Daniel Sampaio, na revista XIS de 27-01-2007, põe o dedo na ferida quando diz: «Em muitos locais, aparece a expressão "os superiores interessas da criança", mas quem cuida ou se preocupa verdadeiramente com os interesses da Esmeralda?» Mais à frente diz: «A verdade é que os nossos tribunais não têm qualquer competência para avaliar os "superiores interesses da criança", que tanto gostam de apregoar. Aos juizes e magistrados falta quase sempre formação e supervisão para decidir. Não existem acessorias credíveis nos tribunais, que decidem ou sem parecer técnico, ou com relatórios de psicólogos e assistentes sociais que não estão treinados em metodologia sistémica, isto é, não sabem (ou não podem) avaliar a situação em todas as suas vertentes.» Et voilá. Eis o momento oportuno para os senhores jornalistas irem ter com o senhor Ministro da Justiça, com o senhor Ministro da Solidariedade Social, com o senhor Primeiro-Ministro e com os senhores deputados, todos eles com «rabos de palha» nesta matéria.
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