sexta-feira, outubro 13, 2006

A predilecção de Deus por escaravelhos

Houve tempos em que essa coisa de «cientista» não existia. Houve tempos em que tudo aquilo que se observava era entendido como uma demonstração magnânima da obra perfeita criada por um Deus todo-poderoso. E tudo era bom porque nos fazia sentir menos responsáveis e menos vazios.

Até porque se olharmos convenientemente para trás reparamos que toda a biologia do século XVII e XVIII foi pensada como estando ao serviço de um Deus. Conhecer o universo e a natureza implicava conhecer e entender melhor os propósitos do criador. E as conclusões eram fantásticas. Houve até quem dissesse que «Deus é um geómetra» dada a perfeição geométrica do mundo e dos fenómenos do mundo vivo. E depois houve ainda alguém que pensou: Mas se tudo é obra de um Deus Todo-poderoso, será que Ele tinha alguma predilecção por alguma forma de vida? Será que conhecendo melhor a Sua obra, conseguiríamos entender melhor as Suas vontades? Foi precisamente essa a pergunta que colocaram ao famoso genético britânico J.B.S. Haldane: «Diga-me, Sr. Haldane, sabendo o que sabe sobre o mundo natural, o que pode dizer-me sobre Deus?». Ao que este respondeu: «Possui uma desmedida predilecção por escaravelhos». Esta resposta não é de todo descabida. A verdade é que se conhecem mais de 300 mil espécies de escaravelhos. Conseguem imaginar?! Mas o que levaria «alguém» a criar tanto do mesmo?

Escolhi apenas três espécies de escaravelhos que me parecem simbólicas da forma como, por vezes, tudo o que nos rodeia se transforma numa notável parábola desconcertante. Até um simples escaravelho!

Os escaravelhos-bombardeiro. Os escaravelhos desta espécie usam um mecanismo de defesa que, hoje em dia, não nos é nada estranho. Recorrendo a uma arma química poderosíssima, estes escaravelhos combatem os predadores pulverizando-os com uma mistura química. Com duas bolsas que abrem para o exterior na extremidade do seu abdómen, o escaravelho, quando se sente ameaçado, comprime parte do líquido da bolsa interna para dentro da bolsa externa. Aí dá-se uma reacção química com a libertação de calor suficiente para vaporizar esse líquido. Na forma de um nevoeiro, esta mistura química é extraordinariamente eficaz. Com a capacidade de produzir 20 a 30 descargas rápidas e sucessivas, estes escaravelhos assemelham-se a uma autêntica máquina de guerra!

Os escaravelhos-sagrados. No antigo Egipto, os escaravelhos eram sagrados. Simbolizavam a ressurreição e o renascimento devido ao seu hábito de porem ovos em fezes de outros animais e nos corpos de escaravelhos mortos. O deus-Sol [Kephra em egípcio, que significa escaravelho] era também representado por um escaravelho. Isto porque os antigos egípcios acreditavam que este deus rolava o sol em volta da terra, da mesma forma que um escaravelho rola uma bola de fezes sobre o chão. Mas acreditavam mesmo!

Os escaravelhos-jóia. Estes escaravelhos, cuja cor é influenciada pela humidade e pelo calor durante o seu crescimento, são extremamente valiosos. E raros. Talvez por isso os coleccionadores paguem muito dinheiro para terem um exemplar desta espécie na sua colecção. A sua incandescência é apreciada de uma forma especial, devido à sua beleza ímpar, fazendo-nos lembrar o brilho hipnótico do ouro.

Guerra, fé e luxúria. É disto que nos falam estas três espécies. Quererá Deus com isto dizer-nos alguma coisa? Bom, não sabemos. Talvez nunca saberemos. Os querubins armados de espada flamejante estão lá para nos impedir. Mas a verdade é que não conseguimos deixar de nos espantar com este verdadeiro espectáculo da natureza. Porque nós gostamos sempre de acreditar.

Os escaravelhos. A predilecção de Deus! Conseguem imaginar!...

Sem comentários: