segunda-feira, outubro 30, 2006

Cão, cão, queijo, queijo

Comecemos com uma banalidade. O cão é o nosso melhor amigo. O melhor e o mais fiel. Avancemos agora para um preconceito. A vida dos cães não passa de uma vida de cão. E terminemos agora com dois desejos. O que será que eles pensam de nós? E o que fazem eles quando não estamos em casa? Talvez estes três elementos – banalidade, preconceito e desejo – sejam comuns aos donos de cães (julgo eu mas não conheço a maior parte das pessoas). Na verdade, a vida dos nossos cães há muito que passou a ser a nossa vida. Como não somos nenhuns psicopatas, com facilidade emerge da nossa criatividade vidas de cão imaginárias recheadas de autocrítica e de boa disposição.

«Cão, cão, queijo, queijo» é a mais recente BD da colecção Café Cão criada por Paul Gilligan e editada em Portugal pela Gradiva. Nela se conta a história da vida de um cão, Poncho, que vive com os seus donos, Chazz e Carmen. E como qualquer vida, ela tem uma rotina muito bem definida. Poncho mostra-nos que os cães não têm apenas uma “vida de cão” assente na ligação homem-cão embora seja esse o nosso preconceito. Talvez por isso o Café Cão, um vulgaríssimo café para cães, seja o local predilecto para Poncho e os seus amigos de espécie desabafarem sobre os problemas e as incompreensões resultantes da vida entre humanos. Nele, além de assistirmos a uma catarse canina ao balcão devidamente acompanhada por uma boa cerveja, temos ainda o prazer de assistir a uma conspiração canina de catapultagem de todos os gatos para o sol. Para quem diz que aos cães só lhes falta é falar, este é um bom livro para se espantarem. É que se eles falassem, podia muito bem ser assim como Paul Gilligan nos conta. Porque, afinal, nem tudo é cão, cão, queijo, queijo.

(Na Gazeta Animal de Outubro de 2006)

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