sexta-feira, agosto 11, 2006

PARA ONDE VAI O PAÍS?
Por agora de férias. Mas depois novamente a caminho da pobreza


Não tenho memória curta. Não tenho, não posso ter, não consigo ter. Recordo-me perfeitamente do debate realizado pelo programa Prós e Contras da RTP dedicado ao tema «Para onde vai o país?». Nele participavam Henrique Medina Carreira, José Silva Lopes, Belmiro de Azevedo e Manuel Ferreira de Oliveira. Um debate quente mas não quente demais para não se perceber os pormenores. Ficou-me cravado na memória o seguinte episódio: Silva Lopes discordava veemente com o "pessimismo" de Medina Carreira quando este dissertava sobre o rumo de Portugal. Perante esta aparente discordância, Medina Carreira, um homem experiente e inteligente, não resistiu em dizer que o prof. Silva Lopes costumava concordar com ele ao almoço. Esta imagem é bem representativa do modo de funcionamento do nosso país. Todos reconhecem as dificuldades, as crises, as fatalidades mas só ao almoço, quando ninguém ouve, porque na hora de assumir em público essas mesmas dificuldade, crises e fatalidades entram em negação. Uma espécie de fuga sem o ser. Isto é particularmente verdade para quem quer ganhar eleições. E como se ganham eleições? De todas as formas excepto falando verdade. O ciclo é vicioso. Quem vai para o Governo vai com uma tarefa muito exigente de causar no povo a ilusão de um país das maravilhas. Ou a caminho dele. E é precisamente isto que o actual Governo faz. Ilude. A sua habilidade para o marketing político vai precisamente nesse sentido. Iludir. Porque só assim se ganham as próximas eleições. Esta esquizofrenia é aliás generalizada. Qualquer um que assume funções de confiança política em qualquer repartição, departamento ou serviço do Estado, entra no jogo. Muito poucos têm a coragem de dizer alto e a bom som aquilo que dizem ao almoço.

É certo que tudo isto não mata. Mas mói. Porque é sempre mais do mesmo. Cansados, exaustos e tristes, e ainda por cima endividados até ao tutano (fora aqueles que têm pais ricos ou que ganharam a lotaria), os portugueses fogem a essa dura realidade que é a de um país «real, pobre, estragado, desigual, excluído» (palavras de JPP) que se estrutura no politicamente correcto, um país que se tem vindo a tornar cada vez mais numa futebolândia (o novo ópio do povo), um país em transumância romântica, um país onde falta a persistência, onde sobra a inveja, onde se pratica a vaidade e a intolerância e onde habita o espírito de imitação.

Não tenho memória curta. Não tenho, não posso ter, não consigo ter. Recordo-me agora do que li na correspondência entre D. Pedro V e o seu tio, o Príncipe Alberto, (uma edição exemplar de Maria Filomena Mónica): «Se não houvesse tanta desconfiança contra o poder real, se os ministros não amassem tanto as pastas, se houvesse mais quem quisesse dizer a verdade aos reis e aos seus ministros, se o povo compreendesse melhor os seus interesses, enfim, se o homem fosse como devia ser e não como é, estava achada a melhor forma de governo; mas essa forma não há-de ver a nossa geração nem a seguinte, se é que seja possível que o homem alguma vez a possa ver». Desconcertante, não é?!

Para onde vai então o país? Se Deus quiser vai melhorar. É preciso é ter esperança. Diz-se por aí. Mas afinal que tipo de esperança nos pedem quando, desgraçadamente, sabemos que no dia em que Portugal prestar para alguma coisa já seremos pó?! Veja-se as previsões para os próximos 50 anos. Começo a achar que as palavras de Jorge de Sena são exactas: «Cada vez mais penso que Portugal não precisa de ser salvo, porque estará sempre perdido como merece. Nós todos é que precisamos que nos salvem dele.» É que não devia ser verdade. Mas é.

Insisto. Para onde vai o país? Por agora, de férias. Mas depois novamente a caminho da pobreza. Enquanto houver estrada para andar.

O que é que foi? Já não se pode ser pessimista?

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