segunda-feira, março 20, 2006

A NUVEM
Hoje caiu sobre mim uma nuvem. Pedaço de algodão sujo com sabor a vento e frio como o gelo do meu copo de whisky que se colou à minha mão direita. Não me importei. Estava demasiado cansado para encetar uma luta de corpo a alma. E sosseguei. Na companhia dessa mistura de moléculas de á gua e de cristais de gelo, fui desabafando os meus segredos mais secretos, os meus desabafos mais íntimos. Cada molécula, cada átomo, ouviu cada uma das minhas palavras que dizia em silêncio. Mas, subitamente, a nuvem foi-se embora. Revelava-se, afinal, uma nuvem passageira. Para onde ela foi, não sei. Limpei as gotículas que me cobriam a cara e regressei à sanidade dos corpos e das mentes que nos amarram à insuportável bondade de negar a loucura, mesmo sabendo que só ela nos dá asas para voar. E continuei o meu caminho. Porque sim. Porque não vale a pena chorar. Não existe outro caminho além deste.

Sem comentários: