terça-feira, fevereiro 21, 2006

GRIPE DAS AVES
Em quem devemos acreditar?
É típico. Em situações extremas que envolvam a saúde pública temos sempre de um lado quem queira preservar o negócio e do outro quem queira preservar a saúde das pessoas. O primeiro é um optimista e o segundo é um pessimista. Seria falacioso se não dissesse que isto não implica que uns e outros tenham as mesmas preocupações. Certamente que os produtores também são sensíveis à assustadora questão de saúde pública, que também é a sua. Mas aqui o que funciona é o desempenho de papéis. Seria incomum um produtor dizer que iria abater todas as suas aves por uma questão de precaução! Apesar de tudo, nestas situações é sempre um risco muito grande dizer o que quer que seja. Porque na verdade nunca sabemos para que lado vai descambar a situação. E é por isso que nestas alturas o possivelmente ideal é encontrar um meio termo entre os optimistas e os pessimistas, isto é, entre aqueles que lamentam o abaixamento do consumo de carne de aves e aqueles que aliviam a sua preocupação nesse mesmo abaixamento. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra, diz-se por aí. Aqui o consumidor é o regulador. E aqui o consumidor não pode ir em cantigas. Mas que credibilidade me merecem os produtores quando numa entrevista do jornal da SIC de há instantes, a jornalista inicia a reportagem dizendo: «aqui neste aviário, onde estão 30 mil frangos, só se entra devidamente equipado com touca, bata e protecção para os sapatos». E de facto a imagem mostrava-a devidamente equipada. Só que entretanto a câmara desloca-se para a direita e o que vemos é o produtor somente com uma bata, sem qualquer touca ou protecção para os sapatos. Pior. Dá-nos ele garantias absolutas que aquelas aves nunca irão ser contaminadas! Claro está que não lhe faltou a modéstia de dizer que as suas aves «são do melhor que há».
Se os produtores querem a confiança dos consumidores, o seu discurso não pode ser propagandista. Tem de ser responsável. É que pode muito bem sair-lhes o tiro pela colatra. E se isso acontecer com que cara os senhores produtores irão olhar os consumidores?

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