segunda-feira, dezembro 26, 2005

ACONTECIMENTO ANNUS MIRABILIS 2005: Habemus papam

A 2 de Abril de 2005 é anunciado ao mundo o falecimento do Papa João Paulo II, o Grande, que protagonizou o terceiro papado mais longo da história da Igreja Católica (tinha sido eleito a 16 de Outubro de 1978; tinha sucedido ao Papa João Paulo I, tornando-se o primeiro Papa não italiano em 450 anos, desde o holandês Adriano VI, no século XVI). Dezasseis dias depois e de acordo com a lei canónica, o Colégio de Cardiais iniciou o Conclave. No dia seguinte e ao fim de apenas quatro votações, o fumo branco anunciava ao mundo que os cardeais tinham elegido um papa. Mais tarde, o Cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez surgia na varanda para pronunciar ao mundo as palavras: HABEMUS PAPAM. E depois surge o 265º Papa da Igreja Católica: Joseph Ratzinger, de 78 anos, que escolheu como nome Bento XVI. PAPA BENEDICTUS XVI. O mundo recuperou o fôlego e vibrou de emoção. A esperança tinha renascido.

Para mim, a todos os títulos, a eleição do novo papa foi indubitavelmente o acontecimento ANNUS MIRABILIS de 2005. A justificação segue duas linhas de argumentação: primeiro, pela carga histórica que um acontecimento desta natureza significa para o mundo; segundo, pela sua importância na minha própria história. Devo dizer que eu nunca conheci outro Papa. Nasci em 1980 pelo que o Papa João Paulo II já tinha sido eleito dois anos antes. Por conseguinte, nunca tinha assistido a um funeral de um Papa nem a um Conclave para a eleição de um outro (pelos meios da comunicação social, obviamente). Por outro lado, devo dizer que sou ateu. Mas essa condição não diminuiu em nada o meu deslumbre e espanto pela forma como o mundo acompanhou este acontecimento. E fez-me acima de tudo perceber a importância da Igreja para as pessoas, a importância de terem um pastor, um guia, um homem iluminado em quem depositam as suas esperanças e aliviam o seu sofrimento. Impressionou-me o desgosto e o desalento colectivo causado pelo falecimento do Papa João Paulo II. Deu quase para ouvir o eco do mundo a rezar e a lamentar-se! Os crentes sentiram-se espiritualmente vazios e os ateus incomodados. Digo isto porque os ateus não ficam indiferentes à herança judaico-cristã da Europa e muito menos ao papel da religião na vida das pessoas. Eu pelo menos não sou indiferente a isso. Com o funeral do Papa, o mundo preparou-se depois para a segunda fase deste acontecimento: o renascimento, ou o conclave. Digo renascimento tendo em mente a imagem da Fénix. Com a morte do Papa João Paulo II, a espiritualidade do mundo ficou em cinzas. Era agora tempo de renascer dessas cinzas a esperança. Um novo papa significava mais do que continuidade, significava sobretudo VIDA. O fumo branco que no dia 19 de Abril de 2005 se elevou sobre o céu da Praça de S. Pedro deu início ao renascimento. A alteração da expressão facial dos milhares de pessoas que aguardavam na praça ao verem o fumo branco deu imediatamente para perceber esse início. Abro parêntesis somente para salientar os milhares de pessoas que durante vários dias permaneceram no Vaticano não somente para o funeral do Papa João Paulo II mas também para a eleição do novo Papa. Ninguém quis regressar sem o conforto espiritual. Mas o momento mais forte foi quando o Cardeal chileno Jorge Arturo Medina Estevez surgiu na varanda para pronunciar as famosas palavras: HABEMUS PAPAM. E chorei. Confesso. E depois é anunciado o novo Papa ao mundo. Joseph Ratzinger é agora o Papa Benedictus XVI, o 265º Papa da história da Igreja e o primeiro Papa eleito no século XXI. A reacção imediata e espontânea das pessoas ao surgir o novo Papa na varanda foi absolutamente impressionante. E voltei a chorar. Também confesso. O renascimento estava assim completo. A Igreja Católica voltava a ter um pastor, um guia, um homem em quem podiam confiar a sua fé. E seguir em frente. Enquanto houver estrada para andar. E foi precisamente isso que aconteceu. As pessoas voltaram para casa e seguiram a sua vida. Mas nem por isso este deixou de ser o acontecimento do ano. E eu, mesmo sendo ateu, gostava de ter estado lá, no meio daquela multidão, e de ter sentido a força da fé. Mesmo não a tendo.

Leia aqui sobre o único Papa português – Pedro Julião, Pedro Hispano Portugalense – o Papa João XXI. Comemorou-se em 2005 o 8º centenário do seu nascimento.

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