sábado, janeiro 26, 2008

O MUNDO DO HI-5 (I)

Tudo o que vou escrever a seguir é apenas uma primeira aproximação àquilo que considero ser um bom campo de trabalho antropológico e sociológico. O Hi5 diz muito sobre o jogo que se joga nas relações entre as pessoas. Tudo o que se escreve, tudo o que se mostra, quer sempre dizer alguma coisa. Sobretudo implicitamente, entre-linhas, em rodapé. Não se diz mas diz-se. O Hi5 funciona também como montra da vida de cada um. Aliás, o Hi5 não passa de uma montra. Porque o interior não interessa. O interior é a vida real de cada um. Aquela que todos acham não valer a pena mostrar porque é banal, mesquinha, deprimente. Convenhamos. Chegar a casa sozinho(a), num Sábado à noite, ligar o computador e ver que temos 218 amigos é extremamente reconfortante. Mesmo continuando sozinhos. O que faz do Hi5 uma batota em relação à vida real, que nos morde, que nos puxa, que nos molha, que nos queima. A começar pela foto que se escolhe para o perfil. Mas também as escolhas musicais que se fazem, as frases que se escolhem, os livros que se lêem, as viagens que se fazem, os "melhores amigos" que se marcam, etc. Tudo tão poderoso quanto mentiroso. Porque a vida de mentira é uma treta. E também porque só assim é que todas as dificuldades desaparecem. Precisamente aquelas que não suportamos por serem tão reais e tão pouco susceptíveis de serem manipuladas pelo Photoshop.
(continua)

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