terça-feira, novembro 13, 2007

A SOMBRA DO VENTO (III)

«-Posso fazer-lhe uma pergunta de índole pessoal, Daniel?
- Com certeza.
- Peço-lhe que responda com toda a sinceridade - disse, e pigarreou. - Acha que eu poderia vir a ser pai?
Deve ter lido a perplexidade no meu rosto e apressou-se a acrescentar:
- Não quero dizer pai biológico, porque parecerei um tanto ou quanto enfezado, mas graças a Deus a providência quis dotar-me da potência e da fúria viril de um Miura. Refiro-me a outro tipo de pai. Um bom pai, sabe como é.
- Um bom pai?
- Sim. Como o seu. Um homem com cabeça, coração e alma. Um homem que seja capaz de ouvir, guiar e respeitar uma criança, e de não sufocar nela os seus próprios defeitos. Alguém que um filho não só ame por ser seu pai, mas que admire pela pessoa que é. Alguém com quem se queira parecer.»

A Sombra do Vento (2004), de Carloz Ruiz Zafón

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