terça-feira, agosto 28, 2007

L’ESPRIT N’A POINT DE SEXE (1)

Convoco, aqui e agora, o Código da Vinci, de Dan Brown ®. É sobre ele que quero falar. Se bem se lembram, este romance apresentava-nos Jesus Cristo como um homem comum no sentido em que se tinha reproduzido e, por isso, se tinha relacionado sexualmente com uma mulher. O Santo Graal representava, então, o útero de Maria Madalena, o lugar onde se faz vida a partir da vida. Aliás, o lugar onde Jesus de Nazaré depositou a sua semente, para usar uma imagem mais subtil. Ora, foi precisamente isto que foi veemente contestado pela Igreja Católica que jura a pés juntos, com a bíblia numa mão e a cruz na outra, que Jesus Cristo foi puro quanto às tentações do corpo. Esta imagem não deixa de ser coerente com a verdade bíblica que nos apresenta a mulher, simbolicamente representada por Eva, como a responsável por todos os males do homem e da humanidade, pela queda original. A proposta de Dan Brown ® pareceu-me, desde o princípio, interessante. Mas fui ingénuo, também desde o princípio, em achar que tudo isto iria causar uma discussão interessante, ainda que teórica, sobre o porquê da amputação do feminino na estrutura da Igreja Católica e, sobretudo, da verdade bíblica. Tinha imaginado logo uns tantos grupos feministas a proporem uma conspiração histórica, vinda de alguém mais próximo da terra do que do céu, contra as mulheres. Tinha também imaginado um punhado de intelectuais a escrever sobre os aspectos filosóficos e antropológicos da trama. Pensava eu que se tinha aberto uma janela para uma discussão mais ampla sobre a menoridade feminina e que este mundo estava então em condições de responder, finalmente, ao senhor Galeno que, no seu mundo, defendia que «Tal como a humanidade é o mais perfeito dos animais, também dentro da humanidade o homem é mais perfeito que a mulher, e a razão dessa perfeição é o excesso de calor, pois o calor é o instrumento da Natureza (...). A mulher é menos perfeita do que o homem no que diz respeito às partes da geração. Porque estas partes se formaram no seu interior quando ela era um feto, e não puderam, por falta de calor, emergir e projectar-se para o exterior». Mas não. Ficou tudo calado. E eu suspirei. Tive de concluir que a malha está muito bem tecida e que ainda não é tempo para a desfazer. As mulheres, essas, foram mesmo tramadas. Não tem, por isso, razão o senhor François de la Barre quando diz que o espírito não tem sexo. Olhe que tem, olhe que tem. Imagine lá qual.

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