terça-feira, abril 10, 2007

Inteligência e intenção

De facto, o mundo que nos rodeia, do macrocosmos ao microcosmos, tem tanto de complexo como de belo. Podemos até arriscar e dizer que, perante a perfeição dos sistema de vida, o mundo natural, isto é, a vida, é inteligente. Mas, por si só, desprovido de qualquer intenção. O mundo, tal e qual o conhecemos, o que já por si é muito pouco, é um mero acaso. Tanto podia ser este como podia ser outro absolutamente fora dos limites da nossa compreensão. Sendo este o único que temos, foi sobre este que encetámos uma encantadora demanda pela sua compreensão. No entanto, esta busca tem um fim antropológico, isto é, buscamos um sentido para a nossa própria vida enquanto homens e mulheres que existem. Mas se, por um lado, o sentido surge pelas palavras, por outro ele também surge pelas intenções. Explicar e compreender é a equação mais-que-perfeita para resolver a nossa crónica crise existencial, que é apenas colectiva na individualidade da sua expressão. O sentido da vida só noz faz sentido se houver intenção. Porém, essa intenção tem que ser transcendental, mística, alquímica. Caso contrário não serve. O cristianismo, por exemplo, surgiu como resposta (uma espécie de penso rápido) a essa crise que começava a apoquentar de uma forma severa os «espíritos» dos infelizes e dos desesperados. Em Deus (que é a mesma coisa que dizer fora de nós) encontraram a intenção que há muito ansiavam encontrar. Com Deus a nossa vida, a nossa existência, começou a fazer sentido. E isto foi tão levado a sério que, com naturalidade, a obra de Newton se transformou rapidamente num veículo poderoso de luta contra o ateísmo, essa gente desprovida de sentido por carência de intenção. Curiosamente, no quotidiano encontramos partículas desta subversão: «Deus queira que...»; «- Então vizinha, como está? - Olhe, tem que ser. - Pois, tem que ser. É a vida». A imagem é a de um rebanho a caminho do purgatório porque essa é a intenção e, por isso, faz sentido. A verdade é que vemos o mundo como nós somos e não como ele é. E, por isso, o nosso pensamento antropológico, fortemente instigado pela crise existencial, desvia-se para processos mentais complexos de construção de uma visão de um mundo que não existe nem nunca existiu. Esse é, pois, um mundo de mentira. Tivéssemos nós coragem e capacidade para estabelecer um contacto físico, de pele a pele, de corpo a corpo, de gesto a gesto, com o sentido, ou a falta dele, da nossa existência, então, muito provavelmente, não precisaríamos de um Deus para nos condenar ou nos salvar, senão as duas coisas ao mesmo tempo. É que o sentido da nossa própria vida, o sentido da nossa própria existência, encontramo-lo dentro de nós próprios, embora esse seja o caminho menos percorrido. Porquê, não sei. Mas faço intenções de descobrir.

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