quarta-feira, janeiro 31, 2007

SOBRE A PROIBIÇÃO DE FUMAR EM LOCAIS PÚBLICOS

No fórum TSF de hoje discutia-se a proposta da União Europeia para proibir o tabaco nos locais públicos. Depois de ouvir um autêntico chorrilho de disparates, não aguentei mais e, irritado, desliguei de imediato o rádio. Vejamos porquê.

Devo começar por dizer que seria extremamente interessante se em vez de direitos falássemos em deveres. Dessa forma a estrutura do pensamento e, por conseguinte, da opinião mudaria por completo. Vejamos um exemplo. Eu tenho o direito à minha opinião como tu tens o direito à tua opinião. Aplicando a perspectiva dos deveres ficaria assim: Eu tenho o dever de respeitar a tua opinião e tu tens o dever de respeitar a minha opinião. É claro que isto significa que eu tenho o direito de ser respeitado na minha opinião e tu tens o direito de ser respeitado na tua opinião mas não é indiferente usar-se uma ou outra forma. Hoje, no fórum TSF ouviu-se de tudo. Para alguns os fumadores são uma espécie de homicídas. Para outros são uma cambada de estúpidos que apesar de saberem que o tabaco lhes faz mal continuam a fumar. Digamos que a caça às bruxas nunca deixou de existir. Quer dizer. Os fumadores são, para todos os efeitos, dependentes de uma substância química viciantes: a nicotina. Bem sei que os não fumadores não compreendem isto mas deixar de fumar é uma coisa muito difícil que não tem simplesmente a ver com um direito mas sim com uma necessidade resultante duma dependência química (que não difere muito da dependência a outros químicos como substâncias psicotrópicas ou alucinogénicas, ou até o próprio álcool). Por isso, antes de transformarem o fumador num monstro anti-social que deve ser excluído, seria mais sensato e mais responsável se fossem criadas condições sérias e credíveis de apoio ao fumador para que este deixe de fumar. Não pela repressão, pela exclusão e pela multa mas sim pelo apoio médico e psicossocial. Na minha opinião, é esse o dever do Estado e é esse o nosso dever de exigência enquanto cidadãos.

Por outro lado, não posso deixar de transcrever um post que publiquei aqui neste blog em 4 de Setembro de 2006:

«Retomando a notícia do Público de sexta-feira [01-09-2006] sobre o facto de a quantidade de nicotina a que os fumadores estão sujeitos ter aumentado cerca de dez por cento nos últimos seis anos, dei-me ao trabalho de fazer umas pesquisas e encontrei mais algumas coincidências que merecem ser sublinhadas.Vamos com calma para se perceber muito bem cada palavra.

1. A Organização Mundial de Saúde e o Banco Mundial estimam que um aumento de 10 por cento no preço do tabaco motivaria cerca de 4,2 milhões de pessoas em todo o mundo a deixar de fumar.

2. «Cerca de 76,5 por cento do valor que os fumadores pagaram pelo tabaco consumido em 2003 em Portugal foi para impostos. Dados recolhidos pelo DN junto do Instituto Nacional de Estatística, apenas referente ao tipo de tabaco mais comum em Portugal - cigarros com filtro -, referem que o volume de negócios (líquido de impostos) da indústria do tabaco, no ano em referência, andou pelos 373 milhões de euros. O Estado, segundo o Boletim de Execução Orçamental de Dezembro de 2003, arrecadou cerca 1220 milhões de euros com a venda de cigarros. Ou seja, dos 1593 milhões de euros envolvidos, 76,5 por cento foram parar aos cofres do Estado» (Diário de Notícias, 2005/01/12)

3. Um maço de tabaco vai custar quatro euros em 2009, feitas as previsões das subidas consecutivas dos preços ao longo dos próximos quatro anos, escreve o Expresso.

4. A quantidade de nicotina a que os fumadores estão sujeitos aumentou cerca de dez por cento nos últimos seis anos, escreveu o Público.

Pergunta universal: Se por um lado se afirma quase pragmaticamente que a subida do preço do tabaco contribui para a diminuição do consumo, porque se aumenta paralelamente a quantidade de nicotina dos cigarros? Porquê? Porquê? Será coincidência?»

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