segunda-feira, novembro 13, 2006

NOTAS AVULSAS E GASTAS, MUITO USADAS, À ESPERA DE FUNDAMENTAÇÃO

Este comentário assume o risco de usar fonte incerta. Mas também, convenhamos, não é um risco muito grande. Apesar de tudo vou tomar as devida precauções e começar assim: diz-se por aí que a Caixa Geral de Depósitos (CGD) comprou os direitos de imagem do seleccionador nacional, Luís Filipe Scolari, que vai arrecadar, até ao ano de 2008, cerca de 18 milhões de euros. A CGD não confirma o valor mas também não diz quanto vai pagar. Para bom entendedor meia palavra basta. Mais milhão menos milhão. Mas o que torna tudo isto nojento é o facto de a CGD ser uma instituição do Estado. Precisamente o mesmo Estado que nos tira cêntimo a cêntimo nas mil e uma contribuições que decreta (talvez ninguém tenha reparado nesta transformação mas passámos de cidadãos a contribuintes). Mais nojento é o facto de tudo isto ter uma finalidade de uma desfaçatez horripilante: através do seleccionador nacional de futebol, a CGD, que é, repito, do Estado, quer que os portugueses, gente falida, se endividem até ao tutano. Há manifestamente qualquer coisa aqui que não bate certo. Mas admito que seja da minha miopia.


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Falaram-me de um jogo excepcional chamado Second Life. Fiquei com curiosidade e fui ver o que era. Trata-se de um projecto comercial da empresa californiana Linden Lab. O jogo é simples. Jogam-se vidas que não as nossas, reais. O próprio nome do jogo é bastante esclarecedor. É a "nossa" segunda vida, não-real mas que gostávamos que fosse real. Este jogo segue o mesmo conceito dos já velhos SimCity e todas as suas derivações Sim. O efeito é extraordinário. Há gente que passa horas em frente do computador a manipular representações de vidas. A acefalia é superada pela produção de uma cada vez maior incapacidade das pessoas em estabelecer relacionamentos interpessoais e reais. Tudo isto é elevado ao extremo quando a primeira tendência do jogador é pôr o seu bonequinho a comer a bonequinha loira, alta e de olhos azuis (ou representando um qualquer outro estereótipo). E o que é mais estranho é que depois disso os jogadores sentem-se como se eles próprios o tivessem feito. Corremos pois o risco de o Second Life passar a ser a First Life. O que, convenhamos, nesta galopante corrida para um mundo cada vez mais desumano, talvez seja coisa pela qual nem sequer se dê por isso.

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