quinta-feira, setembro 21, 2006

MOMENTOS DO QUOTIDIANO MATINAL

Sempre detestei os automatismos. Irrita-me a acefalia generalizada quanto ao caminho que vamos caminhando, sem qualquer nesga de pensamento crítico ou de ruptura com a norma. O nosso quotidiano é, na maior parte das vezes, uma repetição propagada de gestos e de palavras. Dizemos bom dia ao senhor do quiosque, cumprimentamos a menina do Pingo Doce, compramos o jornal no mesmo sítio, dá-nos a moleza sempre à mesma hora. A minha rotina matinal não é de forma alguma excêntrica. Começo o dia com um café e um pastel de nata na "Gruta Del-Rei" para depois me deliciar com os pães de leite barrados com o igualmente delicioso creme de Camembert Président. Depois afundo-me nos jornais do dia. Trabalho um pouco, despacho o expediente, perscruto através da janela os putos do Liceu Francês a terem aulas de Educação Física, reparo que uma das janelas da torre norte das Amoreira se abriu. Oiço a sirene de uma ambulância, trabalho mais um pouco, navego pela internet, vejo o meu e-mail, respondo às mensagens, trabalho ainda mais um pouco, oiço música. Por vezes paro, ausente e alheado do que me rodeia, e mergulho nos meus pensamentos mais profundos. Choro, limpo as lágrimas e trabalho mais um pouco. Chega a hora de almoço, mudo o meu estado no messenger para "ausente para almoço" e cumpro com a necessidade do meu organismo.

Claro que não é assim todos os dias. Sempre detestei os automatismos. Há dias em que me apetece assim, há outros em que me apetece assado. E há dias em que não me apetece mesmo nada. E agora, se me permitem, vou almoçar. Até já.

Sem comentários: