quinta-feira, agosto 10, 2006

BOM DEMAIS PARA SER VERDADE:
O uso de utensílios pelos outros animais
Durante muito tempo, ao homem foi atribuída a exclusividade do uso de utensílios. Somente nós, Homo sapiens sapiens, éramos capazes de fabricar e usar um utensílio numa determinada tarefa. Apenas nós. E sobretudo nós porque somos os mais inteligentes, os mais evoluídos, os mais criativos, os mais qualquer coisa de qualquer coisa. Acontece que o mundo de hoje não é o mesmo. Descobrimos coisas que acreditávamos não existir. A linha de fronteira que nos separa dos outros animais é cada vez mais ténue. A diferença deixou de ser de qualidade para passar a ser de quantidade. Os outros animais também têm cérebro mas usam-no mais ou menos do que os outros. Não porque sejam inferiores no sentido mais negativo da palavra, que é o nosso, mas porque a sua sobrevivência não exige mais. Seria ridículo uma formiga, que até é o animal que tem o maior cérebro em relação ao seu tamanho, passar horas a reflectir sobre A Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant e a possibilidade de aquele pedaço de comida à sua frente poder, afinal, não estar ali. No capítulo do uso de utensílios por parte dos outros animais as descobertas foram impressionantes. Mas há ainda quem resista com a falácia argumentativa do instinto em oposição à inteligência. A discussão que ainda hoje vai acontecendo não deixa de ser interessante. Talvez porque numa perspectiva Freudiana, ao falarmos sobre os outros animais ficamos a saber mais sobre nós do que sobre os outros. Noutros tempos o uso de utensílios pelos outros animais podia ter sido algo bom demais para ser verdade. Mas hoje sabemos que é mesmo verdade! E ainda assim não deixa de ser bom!

O Abutre do Egipto e a sua mania de partir ovos com pedras

Lineu, no século XVIII, atribuiu-lhe o nome latim de Neophron percnopterus. Mas esta ave é mais conhecida por Abutre-do-Egipto ou, em inglês, Egyptian Vulture. É o abutre mais pequeno de todos os abutres europeus. O seu modo de vida podia ser uma banalidade se a sua especialidade em comer ovos não fosse tão impressionante. Na verdade, são as únicas aves conhecidas do mundo que usam pedras como utensílio. A história é a seguinte. Tudo começa com o surrupiar de um qualquer ovo. O tamanho importa porque se o ovo for suficientemente pequeno, o abutre não necessita de qualquer utensílio a não ser o seu bico para pegar no ovo e atirá-lo firmemente para o chão. Mas quando o ovo é suficientemente grande para a ave não conseguir agarrar com o bico, então a estratégia é outra - uma pedra. Diria que a lógica é do tipo se Maomé não vai à montanha então vai a montanha a Maomé. O abutre pega numa pedra, obviamente com o bico, e atira-a firmemente contra o ovo de forma a fracturar a rígida casca que o protege. Uma, duas, três, quatro, as vezes que forem necessárias, dependendo o jeito da ave para o arremesso. E depois de a casca do ovo estar fracturada tudo se torna demasiado fácil. Foram feitos alguns estudos muito interessantes em relação à escolha da pedra pela ave. Colocou-se um ovo de tamanho suficiente para a ave decidir que tem de usar um utensílio para quebrá-lo. Depois colocaram-se em fila três pedras, uma de reduzido tamanho, uma de tamanho intermédio e finalmente a terceira de grandes proporções. Curiosamente a ave escolheu a pedra de tamanho intermédio por ser a mais adequada ao seu objectivo. Devo ainda dizer que este é um comportamento adquirido e não inato. Os abutres aprendem esta técnica com outros abutres. Desta vez me espanto!...

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