terça-feira, setembro 04, 2007

CANÇÕES QUE JÁ NÃO EXISTEM (3)


No fim-de-semana passado apeteceu-me dissolver-me na multidão e ir assistir ao concerto dos Xutos & Pontapés nos jardins em frente à Torre de Belém. E foi bom. Sobretudo saber que há canções que, apesar de já não existirem, ainda são cantadas. Aliás, é interessante ver que são precisamente essas que gostamos de ouvir. E isto sem qualquer tipo de melancolia pois já devíamos saber, porque é isso que estas canções que já não existem nos ensinavam, que «rebolar no lodo só serve para nos sujarmos». Estranhamente, enquanto todos cantávamos "Dantes", uma segunda voz, muda, inconsciente, colectiva, gritava desesperadamente a partir das vísceras da memória, também ela colectiva, numa espécie de «gritos mudos chamando a atenção p'ra vida que se joga sem nenhuma razão»: o que foi que nos aconteceu? É que o problema não é propriamente porque dantes era tudo mas sim porque é que agora é nada. Porquê? Porque deixámos que o tempo nos matasse? Vá, respondam. E depressa que o tempo é implacável. E criminoso.


Dantes o tempo corria lento meu
Dantes matava-se o tempo teu
Fazia-se um curso belo
Dentro do tempo
Fazia-se um namoro
Tudo a seu tempo
Arranjava-se casa
Ao mesmo tempo
Fazia-se uma vida
Dentro do tempo
Dantes o tempo corria lento meu
Dantes matava-se o tempo
Mas tudo isto passou
Foi o tempo que me matou!

(Tim/Xutos & Pontapés)

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