domingo, março 13, 2005

PORTUGAL: Vende-se


Trindade política
No lado esquerdo, o «Pai» é o rei D. Luís, no centro, o «Filho» é D. Carlos e, à direita, o «Espírito Santo» é Fontes Pereira de Melo. A adorar a criança está a vaca Progressista, um burro e dois reis Magos, um dos quais é Mariano de Carvalho.

«Chegámos ao momento em que a água suja e viscosa dá pela barba, há aí alguém que nos acuda e nos tire do atoleiro imundo?»
Há muito que ouvimos dizer que estamos em crise. Associamos imediatamente essa crise ao dinheiro. Mas isso é apenas a ponta do iceberg. E se por alguma razão nos deprimimos logo porque não temos dinheiro para comprar as nossas luxuosas casas de sustentação económica dos construtores e bancos e que, por sinal, são as primeiras a serem vendidas, ou os caríssimos carros que nos enchem de orgulho, ou ainda a carteira estar cheia de cartões VISA, MASTERCARD, AMERICAN EXPRESS que, por ter esgotado o crédito, não podemos usar mais, estranhamente não entramos em pânico quando pensamos como vai ser o futuro dos nossos filhos, sobrinhos e netos. Além de falidos, parece-me que andamos demasiada e orgulhosamente indiferentes ao passado e ao futuro. Porquê? Basta pensarmos que Portugal está a tornar-se num país com uma população extremamente envelhecida. Os preços das coisas não param de aumentar. E os nossos ordenados não acompanham esse crescimento. Trabalhamos e só gostamos de trabalhar pouco. E ganhar muito. Mas a globalização está aí para nos punir. Os políticos brincam às democracias uni-partidárias. As universidades estão dominadas por meia dúzia de pessoas que se regozijam quando são tratadas por professores doutores mas que pouca ou nenhuma vocação pedagógica, técnica ou científica possuem para as funções que desempenham. Pagam-se milhões de euros por ano a técnicos superiores para fazerem nada. Somos diariamente confrontados com notícias de que somos os últimos em qualquer coisa de bom. E os primeiros em qualquer coisa da mau. Tratamos vergonhosamente mal os nossos idosos. Educamos vergonhosamente mal as nossas crianças. Já há quem diga que a médio prazo a segurança social não terá dinheiro para pagar as reformas. Dão-se subsídios a tudo e a todos. Premeia-se a incompetência. Enfim, um autêntico holocausto. Se bem que em tudo isto exista notáveis excepções, elas são imediatamente consumidas pelo monstro que nos atormenta. E sobre isto nada dizemos ou pensamos. E limitamo-nos a olhar as nossas crianças a caminhar para um abismo que desconhecemos mas que só pode ser mau. Vivemos numa autêntica timidez patológica colectiva. Quem viu este povo no passado a defender as suas descobertas, as suas terras e as suas gentes, só pode agora que nos preparamos para vender Portugal. E já há quem diga que não se importava. Para alguns ser espanhol ou português não é realmente importante. O que é realmente importante é a qualidade de vida. Será que os podemos criticar por isso?

Sem comentários: