terça-feira, janeiro 11, 2005

O Princípio d'O Outro Caminho

“No século XVIII os cafés desempenharam um papel de primeira linha no espírito igualitário e integracionista que tinha então começado a varrer o continente. Estes cafés espalharam-se primeiro por Londres, alarmando de tal maneira o rei D. Carlos II que este tentou bani-los. Em vão. Por volta de 1700, já existiam centenas de cafés em Londres, inundando a cidade de um novo espírito subversivo. A seguir o movimento alastrou até Paris, onde, no fim do século XVIII, os cafés se contavam às centenas – incluindo os famosos Café de la Régence e o seu vizinho Café Royal, que contavam entre os seus clientes com Robespierre, Napoleão, Voltaire, Victor Hugo, Théophile Gautier, Rousseau, e o duque de Richelieu.

Anteriormente, quando os homens se juntavam para falar em lugares públicos, faziam-no em bares, que serviam de nichos sócio-económicos específicos e que, devido ao álcool que serviam, criavam uma forma de discurso específica. Os novos cafés, pelo contrário, atraíam muitas classes e profissões diferentes, e funcionavam como estimulantes, e não como depressantes. Daqui resultou muito provavelmente um grande estímulo para a arte da conversa se tornar uma fonte de inspiração literária, e para o despontar de uma nova geração de letras”.

Daí que surgiu a ideia de chamarmos a estes encontros de “Tertúlia-café” pois o espírito com que se reuniam no século XVIII é semelhante àquele que pretendemos seguir nos nossos encontros. E já que falamos de ideias, vale a pena falar um pouco sobre o que nos levou a formar este grupo. O entusiasmo surgiu numa aula de escrita para teatro na Casa do Artista com o poeta José Fanha. O motivo, esse é bem menos evidente. Não pela força que tem mas porque não se vê. Vivemos numa época de profunda timidez patológica colectiva. Hoje não nos faz sentido essa coisa de censura. Mas ela está bem presente nas nossas vidas. E nós vergamos perante ela. E desistimos bem cedo. E achamos que a grande lição que a vida nos trás é a aceitação da nossa dura realidade e não a luta constante e árdua contra esse monstruoso destino que vemos em cartas, globos ou borras de café. Não se trata aqui de conversões políticas ou religiosas. Trata-se sim de nós próprios como actores de uma vida que partilhamos, não só no tempo mas também no espaço.

Sem comentários: