quarta-feira, janeiro 18, 2006

PRESIDENCIAS: 1 candidato e 5 contra-candidatos


Ora vamos lá ter uma conversa séria.

No próximo dia 22 de Janeiro, os portugueses vai eleger o seu próximo Presidente da República. Bem sei que não vale a pena enveredar pela pedagogia e por isso não se preocupem que não vos vou maçar com teoria política pois isso implicava falar sobre a nossa história cultural e social e, na verdade, há coisas sobre as quais nem sempre vale a pena falar. Apenas por uma questão de oportunidade.


Bom mas deixa-me ir lá directo ao assunto que começo a ficar com sono e o café acabou-se.

Comecemos pelos factos:

Cavaco Silva candidata-se a presidente da república.
Mário Soares candidata-se para que Cavaco Silva não seja presidente.
Manuel Alegre candidata-se para que Cavaco Silva não seja presidente.
Jerónimo de Sousa candidata-se para que Cavaco Silva não seja presidente.
Francisco Louçã candidata-se para que Cavaco Silva não seja presidente.
Garcia Pereira… (perdoem a minha ignorância, mas quem é este senhor? Alguém me ajuda? É que o meu motor de busca da Google não está a funcionar lá muito bem!).


OK. Se Mário Soares se candidata para que Cavaco Silva não seja presidente e se Mário Soares é também um candidato, logo Mário Soares quer ser presidente. É daqueles silogismos que me parecem óbvios. E também óbvio é que o mesmo é válido para os restantes candidatos. Mas vamos lá avançar para o próximo estadio.


Os factos aqui expostos dizem-nos mais entrelinhas do que possam imaginar.


Primeiro
, mostra-nos que Cavaco Silva foi o único cidadão a apresentar-se como candidato a presidente da república. Os outros (eles) apresentaram-se como contra-dandidatos.


Segundo
, mostra que todos os candidatos, com excepção de Cavaco Silva e talvez do quadrado do Manuel Alegre, ficaram todos muito confusos com este tipo de campanha a que se habituaram ser uma guerra de palavras e acusações bem ao género dos nossos parlamentares. Como burros a olhar para um palácio, os senhores da ideologia partidária acabaram por ter que embainhar as suas retóricas e inventar uma nova estratégia.


Terceiro
, mostra ao povo, habituado a debates de entretenimento (a título de exemplo, vejam as audiências do debate televisivo entre Mário Soares e Cavaco Silva e que até levou aos comentadores de rescaldo a considerar Mário Soares o grande vencedor do debate, comparando-o com um lutador que mais murros conseguiu dar) levou com uma campanha a dois níveis: num lado um cidadão a expor as suas razões, as suas ideias, as suas preocupações; e do outro lado nada, absolutamente nada, a não serem umas meras divagações ideológicas de retórica sem sentido e uma meia dúzia de falácias sobre o real candidato.


Quarto
, mostra que os meios estratégicos das campanhas dos contra-candidatos são as falácias. E elas são tantas que eu desafio seriamente o leitor a ler o Guia das falácias de Stephen Downes e a descobrir por si mesmo.

Quinto, e por último, mostra que Portugal não pode mais abster-se de uma discussão séria e profunda sobre o sistema e o perfil dos seus políticos. Os factos desta campanha corroboram esse princípio. Senão vejamos. Perante uma candidatura fortemente apoiada pelo povo (entre 51 e 60% de intenção de votos, segundo várias sondagens), os contra-candidatos respondem com ideologias partidárias, algumas delas dissociadas outras delas manifestamente delirantes, pois não sabem fazer política de outra forma. Um exemplo recente. José Sócrates foi eleito não por mérito mas porque era do PS e porque a sua campanha se centrava estrategicamente no apelo à «punição» eleitoral do PSD e do CDS-PP. Pois. Estão a ver a ideia?

Bom.
Leituras entrelinhas à parte, vamos ao que interessa.


Não vale a pena andarmos a tapar o sol com uma peneira. A crise é grave. E vai ser mais grave ainda para os nossos filhos e para os nossos netos. Vamos lá ser realistas mesmo que essa realidade seja trágica. Caminhamos para o precipício. Tudo aquilo que cantámos e sonhámos colectivamente em fados e sonetos está a tornar-se realidade. Somos até levados a reconhecer que o velho do Restelo tinha razão. É agora altura de assumirmos a nossa responsabilidade. Como cidadãos contribuintes e eleitores, como nação, como membro de uma comunidade europeia, como parte do mundo. Não há tempo para divagações de posição ideológica ou de modelos hipotéticos de estado. Não há pachorra para os delírios radicais de esquerda que insistem idealizar um mundo que só uma mente delirante consegue imaginar. Mas não há sobretudo tempo para brincarmos às democracias nem tão pouco aos políticos.


E agora o remate final.


«O futuro depende daquilo que fizermos com o presente». E este foi o mundo (o país) que construímos. Para o melhor e para o pior. Podemos culpar tudo e todos mas isso não transforma. O que importa agora é não repetir os mesmos erros e seguir em frente enquanto houver estrada para andar. E trabalhar. Trabalhar muito. Mas também, e porque não, ter nisso algum gozo?!


Agora, mais do que nunca, todos precisamos de todos. Para que o mundo possa acontecer. Para que Portugal possa acontecer. E ser, cada vez mais, maior. Mas maior em quê? Pois. Seria um bom princípio se começasse a crescer dentro de nós.

Dia 22 de Janeiro vou votar no Professor Aníbal Cavaco Silva.
É a minha escolha.
Livre.
Porque eu também não me resigno.

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